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SER ESTUDANTE DE MEDICINA NA UFRN: CONQUISTAS, DESAFIOS, DESABAFOS E SUPERAÇÕES

por Daniel Fernandes Mello de Oliveira

 

Entre uma hora e outra que temos livre na nossa apertada grade semanal de aulas e atividades, dividimos o nosso escasso tempo enquanto estudantes de medicina entre estudos, vida social, academia, família, amigos, namorados e namoradas. O dilema é comum a todos os estudantes, não importa o período: ser estudante de medicina parece muitas vezes um obstáculo intransponível, e pensamos estar diante de desafios que só nós vivemos. A dor parece aumentar ainda mais quando ouvimos dos veteranos pelos corredores: "Não reclama agora que a tendência é só piorar!". O que temos feito de tão errado para enxergar a experiência de ser estudante de medicina de forma tão negativa? Vamos provar que nem tudo é tão ruim quanto parece, especialmente na UFRN.

 

Cada escola médica no Brasil e afora tem suas qualidades e áreas para desenvolvimento. No entanto, após ter tido contato com a realidade de outras escolas médicas e, inclusive, ter tido a oportunidade de estudar em uma instituição no exterior, percebi que somos muito privilegiados por estarmos em uma escola onde tantos benefícios se fazem presentes diariamente. Honrar o nosso brasão UFRN, então, nunca foi algo que fiz com tanto prazer após ter vivenciado outras realidades, que sempre julgamos superiores à nossa. Talvez seja exatamente isso que precisamos, muitas vezes, para dar valor à nossa casa: sair dela por algum tempo. E não estou me referindo aqui apenas a números dados por instituições que validam a qualidade do nosso ensino, e estampam com um conceito o que eles acham que fazemos de certo ou errado, com base em uma visita pontual aos corredores dos nossos hospitais. Falo da experiência diária de viver o curso de medicina em sua plenitude enquanto estudante de graduação.

 

Estou a apenas alguns meses de distância da tão sonhada formatura, e é natural que nessa fase tenhamos a tendência de ver tudo de forma retrospectiva, como um filme passando pela nossa cabeça. Ainda temos muito a melhorar, sim, mas ver o "copo meio cheio" é uma estratégia muito bem sucedida para valorizarmos aquilo que já temos e construímos. Portanto, na minha visão como sextanista, segue abaixo o TOP FIVE do que a Medicina UFRN tem de melhor:

 

  1. Terreno fértil para educação médica: Se reconhecermos um problema, atuaremos sobre ele. Ter uma instituição em que vários professores fazem pós-graduação em educação médica e alunos que lideram diversos grupos acadêmicos é um privilégio do qual temos sempre que nos orgulhar. Sabemos que alguns problemas existem, mas temos também a proatividade para resolvê-los. Seja através de pesquisa, discussão ou projeto de extensão, o nosso curso é dinâmico, em constante transformação e repleto de novidades semestre após semestre. Você pode até não reconhecer mais uma disciplina que seus calouros estão pagando hoje.

  2. Espaços de prática reais: Parece até óbvio, mas nem toda instituição tem ao seu dispor hospitais próprios que recebem bem os estudantes e os enxergam como parte fundamental do serviço, especialmente durante o internato. Podemos até ter a sensação de que somos "explorados e escravizados" em alguns setores, mas o que seria do nosso aprendizado se fosse o contrário? E se não tivéssemos a oportunidade de ver pacientes de verdade, de participar ativamente do serviço, de podermos dar assistência a um parto ou atender no ambulatório?

  3. Professores experientes, envolvidos e, acima de tudo, acessíveis: De um modo geral, contamos com uma equipe docente de altíssimo nível. Nossos professores são profissionais de referência em suas áreas de atuação e, apesar de seus robustos currículos, eles não são catedráticos distantes dos alunos, ou doutores intocáveis e flutuantes acima do bem e do mal que só vemos durante as visitas nas enfermarias e que mal sabem os nossos nomes. Entre uma discussão e outra de um caso clínico, eles falam com a gente pelo WhatsApp, curtem e comentam nossas fotos no Facebook e Instagram, e de fato se sentam em uma mesa ao nosso lado e tomam um café conosco enquanto mostram fotos de seus filhos e contam sobre suas últimas viagens. E muitas vezes ainda pagam a conta.

  4. Student power: Muitas mudanças em nosso curso foram promovidas por estudantes, desde uma disciplina na qual faltavam professores até uma sala para descansar entre um horário vago e outro. Somos uma escola médica que elege diretores nacionais de ONGs e associações acadêmicas, que leva trabalhos para congressos nacionais e internacionais, que publica em periódicos, que organiza uma bela recepção para os calouros e riquíssimos eventos científicos. E tudo isso tem sempre a mão de quem? De estudantes que se interessem e arregaçam as mangas para levar o nome da UFRN adiante. Faltar umas aulas ou estudar menos para algumas provas é um preço que pagamos em certas ocasiões, mas o resultado compensa qualquer sacrifício.

  5. Ser UFRN é ser do mundo: Se pararmos para analisar onde estão os estudantes egressos agora, teremos ainda mais orgulho ao perceber que muitos deles são aprovados em residências concorridas no Brasil. Somos elogiados em serviços prestigiados não apenas pelo nosso conhecimento, mas principalmente pela iniciativa, proatividade, compromisso e responsabilidade, marca registrada do estudante de medicina da UFRN e fruto da nossa ampla experiência prática. Alguns dos ex-alunos são hoje chefes de serviço e preceptores de grandes hospitais em metrópoles nacionais, professores e, inclusive, gestores. Até mesmo em Harvard a UFRN já foi parar! Vermos esses exemplos é mais um motivo para dizermos: estou no lugar certo, na hora certa, e se muitos que vestiram a bata estampada com o brasão UFRN alçaram vôos altos, por que não poderei também?


Antes de reclamarmos todos os dias pelo que não temos, sejamos gratos a tudo o que já temos. E sugiro a todos colarem na porta do armário essa lista de motivos pelos quais devemos nos sentir orgulhosos por fazermos parte dessa escola. Só assim, antes de vestirmos a bata para sairmos apressados para uma aula, poderemos nos dar conta de que todo sacrifício vale a pena. Ser estudante de medicina da UFRN é um privilégio a que poucos têm acesso. Espero que após a leitura desse texto, você tenha deixado um pouco de lado as olheiras e o estresse diário para estacionar o seu carro no HUOL, e possa ter chegado à seguinte conclusão: vamos aproveitar essa oportunidade única e, acima de tudo, dar o nosso melhor para multiplicar os bons exemplos que já formamos. Pode até não parecer que os seis anos passam rápido, mas eles voam. Que esse vôo seja então alto, ao infinito e além.

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